Tolerância — do latim tolerantia, do verbo tolerare que
significa suportar. É uma atitude de respeito aos pontos de vista dos outros e
de compreensão para com suas eventuais fraquezas. Esta palavra está ligada a
outros termos afins: paz, ecumenismo, diferença, intersubjetividade, diálogo,
alteridade, não violência etc. Pergunta-se: será que tratamos o nosso próximo
da mesma forma que gostaríamos de ser tratados? Somos severos para com os
outros e indulgentes para conosco ou severos para conosco e indulgentes para
com os outros?
A intolerância
religiosa foi, no processo histórico, a maior causadora das guerras
entre nações. Nesse mister, o próprio catolicismo demorou muito a respeitar o
pluralismo das diversas crenças. Foi somente no Concílio Vaticano II que deixou
claro: 1.º) a tolerância religiosa não se baseia no falso princípio de que
todas as religiões sejam verdadeiras, mas no princípio da liberdade de
consciência; 2.º) esta não dispensa ninguém do dever fundamental de fidelidade
à verdade, isto é, não significa que se pode mudar de religião como se muda de
roupa, mas significa que a aceitação de uma fé é um ato soberanamente livre e
espontâneo da consciência.
O dilema dos limites da virtude da
tolerância pode resumir-se em dois princípios: "Não faças aos outros o
que não queres que te façam a ti" e "Não deixes que te façam o que
não farias a outrem". O comodismo que norteia os
nossos passos é o grande obstáculo para o não cumprimento desta virtude.
Quantas não são as vezes que dizemos sim a um convite quando, com razão,
deveríamos ter dito não, por faltar-nos a coragem de dizer que aquilo não faz
parte de nosso projeto de vida.
A Lei de Justiça, Amor e Caridade
ajuda a compreender a tolerância. Segundo o entendimento desta lei, a justiça,
que é cega e fria, deve ser complementada pelo amor e pela caridade, no sentido
de o ser humano conviver pacificamente com o seu próximo. Observe alguém, sem
recursos financeiros, jogado ao sofrimento, como consequência de atos menos
felizes do passado. Há justiça divina, porque nada ocorre por acaso. Mas o amor
e a caridade dos semelhantes podem mitigar a sua sede e a sua fome.
A base da tolerância está calcada na
figura de Cristo. Foi Ele que nos passou todos os ensinamentos de como amar ao
próximo como a nós mesmos. Ele nos deu o exemplo, renunciando a si mesmo em
favor da humanidade. Fê-lo, sem queixas e sem recriminações, aceitando sempre
as determinações da vontade de Deus e não a sua. Em suas prédicas alertava-nos
que deveríamos ser severos para conosco mesmos e indulgentes para com o próximo,
e não o contrário.
Há um limite para a tolerância. Não
deixemos que os outros nos façam o que não faríamos a eles. É preferível ter
todo mundo contrário a ver Jesus ofendido.
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Tolerância
A maior dificuldade no
desenvolvimento espiritual corresponde ao divórcio entre a teoria e a prática,
entre o discurso e a vida dos religiosos. Um dos aspectos que se pode destacar
diz respeito à tolerância.
Quantos se apresentam como corifeus
da caridade e da divulgação do livro, como renovadores, pretendendo estabelecer
novos parâmetros e visões, e acabam por desviarem-se de tudo o que pregam para
afundarem-se no lado da intolerância!
Por que devemos dizer que estão errados os que não pensam como nós? Não podemos estar enganados? A nossa visão não pode ser mais curta? A tolerância mútua facilita a aproximação. A tolerância nunca fez mal a ninguém. É preferível reconhecer os nossos enganos para que os opositores se sintam à vontade para identificarem seus erros.
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1.
Tolerância. A insistência sobre a necessidade
de tolerância deve referir-se a certas atitudes que surgem no ambiente
espírita. Os movimentos exclusivamente religiosos não toleram oposições e
buscam eliminá-las, embora não possuam mais o aparelhamento do Estado, salvo
nos países islâmicos, para impor seus pontos de vista ou dogmas. A história se
repete. Na formação da Igreja Católica, após a perseguição desenvolvida por
alguns imperadores romanos, logo após o reconhecimento do direito dos cristãos
de praticarem a nova fé, iniciou-se um período de intolerância clerical, com
perseguições, exílios etc.
Na época da
Reforma, Lutero oscilou: após um início de ódio declarado à Igreja Católica,
viveu momentos de tolerância, admitindo que cada indivíduo tinha o direito de
escolher a própria fé. Mesmo nesse período (1520 – 1531), houve manifestações
claras de intolerância.
(Cópia de trechos
do capítulo 3 — “Tolerância”, do livro Convite à Reflexão, pelo
Espírito Deolindo Amorim, psicografado por Elzio Ferreira de Souza)
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Tolerância e Coerência
O Espírito Emmanuel, no livro Opinião
Espírita, psicografado por Francisco Cândido Xavier, dá-nos alguns
conselhos sobre a tolerância e sua relação com a coerência.
Alguns trechos da mensagem:
1) Ele sabia que Judas bandeava-se para o lado dos
adversários. "A pretexto de amar os inimigos, ser-lhe-ia lícito
afastá-lo da pequena comunidade, a fim de preservá-la, mas preferiu
estender-lhe mãos fraternas".
2) Ele sabia que os supervisores do Sinédrio lhe
tramavam a perda. "A pretexto de amar os inimigos, poderia
solicitar-lhes encontros cordiais para a discussão de política doméstica,
promovendo recuos e concessões, de maneira a poupar complicações aos próprios
amigos, mas preferiu suportar-lhes a perseguição gratuita",
3) Ele sabia que Pilatos agia afoitamente. "A
pretexto de amar os inimigos, não lhe seria difícil recorrer à justiça de
instância mais elevada, mas preferiu aguentar-lhe a sentença iníqua".
Nosso comentário:
Em sua comunicação, notamos que o Espírito Emmanuel
procura desviar o nosso foco — justiça humana —, direcionando-o para a justiça
divina, muito mais abrangente e de difícil compreensão, pois os nossos reflexos
condicionados foram, por muito tempo, automatizados na defesa da honra, do
personalismo, do "olho por olho e dente por dente".
As suas palavras devem ser analisadas dentro de um
contexto mais amplo. Reportando-nos às elucidações evangélicas de Jesus, vemos
que o Seu interesse não é a "salvação" de uma única pessoa, mas a
"salvação" de toda a humanidade.
Para a maioria dos terráqueos, Jesus deveria ter
sido mais severo com o mal, mas preferiu agir de forma mais branda, achando que
esta traria mais resultados para o erro cometido. A tolerância de Jesus não é
ser conivente com o mal, mas procurar uma forma mais efetiva de debelá-lo. Esta
é, segundo a nossa interpretação, a coerência que o Espírito Emmanuel quer nos
mostrar.
O significado dos termos:
Coerência é
a qualidade de um raciocínio ou de um texto no qual não se pode descobrir
contradição. Ordem, conexão, harmonia de um sistema de conhecimento. Implica
não só a ausência de contradição, mas a presença de conexões positivas que
estabeleçam harmonia entre os elementos do sistema. O mesmo que compatibilidade.
Tolerância. Nasceu
no âmbito da religião e significa a coexistência pacífica entre várias
confissões religiosas. Do ponto de vista moral, é um termo ambíguo, porque pode
admitir que todas as opiniões se equivalem e que não existe verdade ou valor digno
de ser difundido veementemente.
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