02 julho 2008

Tolerância

Tolerância — do latim tolerantia, do verbo tolerare que significa suportar. É uma atitude de respeito aos pontos de vista dos outros e de compreensão para com suas eventuais fraquezas. Esta palavra está ligada a outros termos afins: paz, ecumenismo, diferença, intersubjetividade, diálogo, alteridade, não violência etc. Pergunta-se: será que tratamos o nosso próximo da mesma forma que gostaríamos de ser tratados? Somos severos para com os outros e indulgentes para conosco ou severos para conosco e indulgentes para com os outros?

intolerância religiosa foi, no processo histórico, a maior causadora das guerras entre nações. Nesse mister, o próprio catolicismo demorou muito a respeitar o pluralismo das diversas crenças. Foi somente no Concílio Vaticano II que deixou claro: 1.º) a tolerância religiosa não se baseia no falso princípio de que todas as religiões sejam verdadeiras, mas no princípio da liberdade de consciência; 2.º) esta não dispensa ninguém do dever fundamental de fidelidade à verdade, isto é, não significa que se pode mudar de religião como se muda de roupa, mas significa que a aceitação de uma fé é um ato soberanamente livre e espontâneo da consciência.

O dilema dos limites da virtude da tolerância pode resumir-se em dois princípios: "Não faças aos outros o que não queres que te façam a ti" e "Não deixes que te façam o que não farias a outrem". O comodismo que norteia os nossos passos é o grande obstáculo para o não cumprimento desta virtude. Quantas não são as vezes que dizemos sim a um convite quando, com razão, deveríamos ter dito não, por faltar-nos a coragem de dizer que aquilo não faz parte de nosso projeto de vida.

A Lei de Justiça, Amor e Caridade ajuda a compreender a tolerância. Segundo o entendimento desta lei, a justiça, que é cega e fria, deve ser complementada pelo amor e pela caridade, no sentido de o ser humano conviver pacificamente com o seu próximo. Observe alguém, sem recursos financeiros, jogado ao sofrimento, como consequência de atos menos felizes do passado. Há justiça divina, porque nada ocorre por acaso. Mas o amor e a caridade dos semelhantes podem mitigar a sua sede e a sua fome.

A base da tolerância está calcada na figura de Cristo. Foi Ele que nos passou todos os ensinamentos de como amar ao próximo como a nós mesmos. Ele nos deu o exemplo, renunciando a si mesmo em favor da humanidade. Fê-lo, sem queixas e sem recriminações, aceitando sempre as determinações da vontade de Deus e não a sua. Em suas prédicas alertava-nos que deveríamos ser severos para conosco mesmos e indulgentes para com o próximo, e não o contrário.

Há um limite para a tolerância. Não deixemos que os outros nos façam o que não faríamos a eles. É preferível ter todo mundo contrário a ver Jesus ofendido.

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Tolerância

A maior dificuldade no desenvolvimento espiritual corresponde ao divórcio entre a teoria e a prática, entre o discurso e a vida dos religiosos. Um dos aspectos que se pode destacar diz respeito à tolerância.

Quantos se apresentam como corifeus da caridade e da divulgação do livro, como renovadores, pretendendo estabelecer novos parâmetros e visões, e acabam por desviarem-se de tudo o que pregam para afundarem-se no lado da intolerância!

Por que devemos dizer que estão errados os que não pensam como nós? Não podemos estar enganados? A nossa visão não pode ser mais curta? A tolerância mútua facilita a aproximação. A tolerância nunca fez mal a ninguém. É preferível reconhecer os nossos enganos para que os opositores se sintam à vontade para identificarem seus erros.

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1. Tolerância. A insistência sobre a necessidade de tolerância deve referir-se a certas atitudes que surgem no ambiente espírita. Os movimentos exclusivamente religiosos não toleram oposições e buscam eliminá-las, embora não possuam mais o aparelhamento do Estado, salvo nos países islâmicos, para impor seus pontos de vista ou dogmas. A história se repete. Na formação da Igreja Católica, após a perseguição desenvolvida por alguns imperadores romanos, logo após o reconhecimento do direito dos cristãos de praticarem a nova fé, iniciou-se um período de intolerância clerical, com perseguições, exílios etc.

Na época da Reforma, Lutero oscilou: após um início de ódio declarado à Igreja Católica, viveu momentos de tolerância, admitindo que cada indivíduo tinha o direito de escolher a própria fé. Mesmo nesse período (1520 – 1531), houve manifestações claras de intolerância.

(Cópia de trechos do capítulo 3 — “Tolerância”, do livro Convite à Reflexão, pelo Espírito Deolindo Amorim, psicografado por Elzio Ferreira de Souza)  

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Tolerância e Coerência

O Espírito Emmanuel, no livro Opinião Espírita, psicografado por Francisco Cândido Xavier, dá-nos alguns conselhos sobre a tolerância e sua relação com a coerência.

Alguns trechos da mensagem:

1) Ele sabia que Judas bandeava-se para o lado dos adversários. "A pretexto de amar os inimigos, ser-lhe-ia lícito afastá-lo da pequena comunidade, a fim de preservá-la, mas preferiu estender-lhe mãos fraternas".

2) Ele sabia que os supervisores do Sinédrio lhe tramavam a perda. "A pretexto de amar os inimigos, poderia solicitar-lhes encontros cordiais para a discussão de política doméstica, promovendo recuos e concessões, de maneira a poupar complicações aos próprios amigos, mas preferiu suportar-lhes a perseguição gratuita",

3) Ele sabia que Pilatos agia afoitamente. "A pretexto de amar os inimigos, não lhe seria difícil recorrer à justiça de instância mais elevada, mas preferiu aguentar-lhe a sentença iníqua".

Nosso comentário:

Em sua comunicação, notamos que o Espírito Emmanuel procura desviar o nosso foco — justiça humana —, direcionando-o para a justiça divina, muito mais abrangente e de difícil compreensão, pois os nossos reflexos condicionados foram, por muito tempo, automatizados na defesa da honra, do personalismo, do "olho por olho e dente por dente".

As suas palavras devem ser analisadas dentro de um contexto mais amplo. Reportando-nos às elucidações evangélicas de Jesus, vemos que o Seu interesse não é a "salvação" de uma única pessoa, mas a "salvação" de toda a humanidade.

Para a maioria dos terráqueos, Jesus deveria ter sido mais severo com o mal, mas preferiu agir de forma mais branda, achando que esta traria mais resultados para o erro cometido. A tolerância de Jesus não é ser conivente com o mal, mas procurar uma forma mais efetiva de debelá-lo. Esta é, segundo a nossa interpretação, a coerência que o Espírito Emmanuel quer nos mostrar.

O significado dos termos:

Coerência é a qualidade de um raciocínio ou de um texto no qual não se pode descobrir contradição. Ordem, conexão, harmonia de um sistema de conhecimento. Implica não só a ausência de contradição, mas a presença de conexões positivas que estabeleçam harmonia entre os elementos do sistema. O mesmo que compatibilidade.

Tolerância. Nasceu no âmbito da religião e significa a coexistência pacífica entre várias confissões religiosas. Do ponto de vista moral, é um termo ambíguo, porque pode admitir que todas as opiniões se equivalem e que não existe verdade ou valor digno de ser difundido veementemente.

 

 

 

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