01 julho 2008

Ritualismo e Espiritismo

O que se entende por ritualismo? Devemos tomá-lo no seu sentido próprio ou no seu sentido pejorativo? O Espiritismo tem ritual? E os espíritas? Introduzem rituais em suas práticas? Quando uma ação passa a ser ritual? Detectaríamos muitos rituais nos trabalhos práticos do Espiritismo? Estas são algumas perguntas que servem apenas para nos introduzir ao tema, objeto de nossa análise.

Historicamente, o rito está contido no mito. O mito, no seu sentido próprio é um arquétipo, um modelo de compreensão da origem da vida, do universo e da relação com a divindade. Vemos isso na mitologia grega e romana. Contudo, quando estamos falando do ritual e do ritualismo, estamos nos referindo ao seu sentido pejorativo, ou seja, apego excessivo a cerimônias, sem suficiente atenção ao significado que veiculam. Daí, o aparecimento do pensamento mágico e suas consequências negativas para a boa conduta das pessoas.

O ritualismo tem íntima conexão com o sincretismo. O sincretismo, que na sua origem quer dizer união dos cretenses contra os inimigos comuns passou, posteriormente, a significar mistura. Nesse sentido, temos vários tipos de sincretismo, tanto filosóficos como religiosos. O cristianismo, por exemplo, absorveu muitos elementos da cultura helena. Santo Agostinho (354-430), ao interpretar a revelação divina, baseia-se nos ensinamentos de Platão. Santo Tomás de Aquino (1221-1274), por sua vez, utiliza a filosofia de Aristóteles para explicar a relação entre fé na revelação e razão. Na atualidade, Umbanda, a única religião genuinamente brasileira, é uma mistura das crenças indígenas, católicas e dos africanos.

O sincretismo e o ritualismo aparecem veladamente no Espiritismo. A razão é simples: a maioria que adentra ao Espiritismo vem de outras filosofias e religiões. A primeira das confusões é achar tudo o que é espiritualista é também espírita. É o caso de introduzirmos as noções de elementais, carma, chakras, termos extraídos do esoterismo. No âmbito da adoração, transferimos as funções que um santo da Igreja Católica ou um guia da Umbanda para algum Espírito de nossa predileção, como, por exemplo, Bezerra de Menezes. Quer dizer, não é fácil abandonarmos o nosso baú.

Os dirigentes de Centros Espíritas devem estar sempre atentos aos acontecimentos internos. Nesse sentido, convém verificar se estamos estimulando o uso de túnica branca para os dirigentes, a abstinência de carnes nos dias de trabalho, a realização de casamentos, batizados e crismas "espíritas", os hinos cantados no começo de uma reunião, a obrigação de receber passes à entrada do recinto etc. Lembremo-nos de que os maiores desastres começaram com pequenos defeitos. Hoje cedemos alguma coisa, amanhã outra e depois de amanhã também. Sem o percebermos, a pureza doutrinária estará toda abalada.

Debrucemo-nos sobre as obras da codificação. Somente assim estaremos nos libertando do sincretismo e do ritualismo, que ronda os nossos passos, e impede-nos de nos lançarmos ao verdadeiro voo da evolução espiritual.



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