Recompensa e castigo estão implícitos em cada uma de
nossas ações. Toda ação boa, por ser coerente consigo mesma, traz em si a sua
própria recompensa. Quer dizer, ela não se expressa em conflito. Toda ação má,
por não ser coerente consigo mesma, entra em conflito e tem o seu castigo. O
conflito que a ação má provoca nem sempre é resolvido imediatamente: pode levar
dias, meses, anos. Observe o ato de fumar: às vezes, somente depois de 10, 20
ou mais anos, vamos notar os prejuízos desse vício em nossa saúde.
Os
Antigos filósofos e os primeiros cristãos falavam de um bem e de um mal
coletivos. O indivíduo, segundo eles, não respondia somente por si mesmo, mas
por uma coletividade. Hoje, com o solipsismo de Descartes e a
monadologia de Leibniz enfatizamos o eu, esquecendo-nos de que fazemos parte de
um todo. Tudo isso dificulta a aceitação de dificuldades, de doenças e de
problemas que não entendemos o desfecho. O stress em nossa vida diária, muitas
vezes, é consequência desse modo de pensar.
Como
a coerência nem sempre é imediata e o Castigo ou Recompensa vêm muito tempo
depois, é preciso instituir o Estado e a Lei do Estado. Se um indivíduo não
sabe que sua ação algum tempo depois vai entrar em conflito, é necessário que
alguém o lembre agora. Esse alguém é o Estado. Assim, o Estado é um Universal
Concreto no qual o Dever-Ser da Ética dos muitos homens individuais é elevado
ao Estatuto de um Dever-Ser Coletivo, externo e superior aos homens
individuais, no qual a vontade de cada um se funde com a vontade de todos os
outros numa Vontade Geral.
O
bem existe sob muitas formas ou, como os gregos diziam, sob a forma de muitas
virtudes. Virtudes são para os gregos, por exemplo, a Sabedoria, a Coragem, a
Temperança, a Justiça etc. Dentre essas virtudes, uma assume papel ímpar, isto
é, a justiça. Mas o que é a justiça? Platão falava de uma virtude que estava no
fundo de todas as outras virtudes, mas não deu uma definição precisa. Os
romanos falavam de um Suum cuique, ou seja, a justiça é dar a cada um o que a ele compete.
De qualquer maneira a justiça é muito rica e muito ampla, pois todos os homens
são iguais perante a Lei.
A
interpretação de que todos os homens são iguais perante a Lei, leva-nos à
Grande Tentação de regular a justiça por baixo, ou seja, pela pobreza. É daí
que surgem as comunidades dos primeiros cristãos, os monges que habitavam no
deserto, o voto de pobreza das grandes ordens religiosas da Idade Média, o
socialismo de Proudhon, o comunismo de Marx etc. Esquecem-se de que o pobre
quer ficar rico. Lembremo-nos de que a pobreza é um mal social — resultado de
ações eticamente perversas — e não uma virtude.
Procuremos
sempre fazer o bem pelo bem, tendo em mente que qualquer desvio da Lei Natural,
sofreremos inevitavelmente as suas consequências, quer nesta ou em outras
existências.
Fonte de Consulta
CIRNE-LIMA,
C. Dialética para Principiantes.
2. ed., Porto Alegre, EDIPUCRS, 1997.
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