Os estoicos, na Grécia arcaica, tinham
plena convicção da unidade nómos-physis, ou seja, na perfeita
correspondência entre a lei e a natureza. As suas teses giravam em torno dos
termos Moirai e Thémis. Segundo eles, a Divina
Moira é quem distribui o quinhão de cada um. Thémis é a deusa
zeladora das distribuições efetivadas pelas Moirai. Elas são
respeitadas e temidas sem a necessidade de leis escritas. Assim sendo, ser
virtuoso é cumprir a determinação da Moira e da Thémis,
tanto na ordem pessoal quanto na ordem social.
Na Grécia clássica, o espaço e o tempo vão sendo laicizados. Os
filósofos dessa época ocupam-se com o lógos, cuja consequência
imediata é a crítica contumaz ao conhecimento mítico-sagrado. Com o
desenvolvimento da polis, a reflexão filosófica fica mais restrita
aos apelos sociais, principalmente na manutenção da conduta administrativa do
Estado. A natureza acaba ligando-se ao lógos em detrimento
do nómos. Nessa nova lógica, o par nómos-physis terá
outra acomodação. O questionamento da relação homem-cidade-cosmo ganha força já
no século VI a.C.
No século V a.C., para enfatizar ainda mais o questionamento da
unidade nómos-physis, surgem os sofistas. Os sofistas, como
sabemos, são pessoas especializadas na arte da discussão. Valiam-se mais
do lógos do que da lei. O lógos é uma palavra
de difícil tradução. O significado mais próximo é "discurso
argumentativo". Lógos é um dizer que explica, usando
encadeamento de argumentos. Assim sendo, o poder da palavra toma corpo, abrindo
espaço para a persuasão.O lógos persuavivo, por sua vez, pode
transformar os homens, portanto a cidade.
O lógos persuasivo dos primeiros filósofos não está
totalmente desvencilhado do mito. Com os pré-socráticos, há a tentativa de
buscar uma realidade por detrás das aparências. O único paradigma possível é o
cosmo teorizado como harmonia de forças contrárias. Com a vinda de Sócrates,
Platão e Aristóteles, o logos toma nova dinâmica, isto é,
tenta dar uma nova dimensão à religião, ao mito e ao sobrenatural. É a
explicação baseada na razão. Quer-se, com isso, buscar o conhecimento, partindo
do próprio raciocínio, do próprio esforço, da própria vontade.
Para os estoicos, a Physis sustenta a noção de
igualdade. Entre eles, há concordância entre o mito, a filosofia e a religião.
Os filósofos posteriores, porém, tomam outra direção e começam a se distanciar
da lei divina. O lógos dessa época dá mais importância à
junção entre a natureza e a cidade. Em suas ações, podem cometer mais erros,
aumentando, inclusive, a distância entre a ordem divina e a ordem humana.
Contudo, quando se aproximarem novamente da lei divina, fa-lo-ão com
conhecimento de causa.
De acordo com o Espiritismo, a lei divina ou natural está escrita na
consciência do ser. Por isso, não é nenhuma novidade que os estoicos, no século
V a.C., tivessem sobre ela tamanha convicção.
Fonte
de Consulta
GAZOLLA, Rachel. O oficio do filosofo estoico: o duplo
registro do discurso da Stoa. São Paulo: Loyola, 1999.
Nenhum comentário:
Postar um comentário