01 julho 2008

Heresia e Espiritismo

"E até importa que haja entre vós heresias, para que os que são sinceros se manifestem entre vós". (Paulo, I Coríntios, 11,19)

Heresia (do grego hairesishairen) significa escolha. Na época helenística tinha o sentido de doutrina ou escolha. Com o advento do cristianismo, a palavra recebeu uma conotação pejorativa de "doutrina que está fora da Igreja", ou seja, contrária aos princípios da fé cristã. Pode-se dizer que é a doutrina contrária à ortodoxia de uma fé religiosa, condenada pela Igreja dessa Fé.

A história das heresias – uma das mais revoltantes – apresenta-se de três modos: 1) Heresias da Igreja Primitiva, que se prendem a especulações filosóficas e teológicas sobre os dogmas cristãos (Santíssima Trindade e natureza de Cristo); 2) Heresias da Baixa Idade Média, que se relacionam com uma nova visão ética da Igreja e do cristianismo; 3) Heresias Modernas, que procuram acomodar e mesmo adaptar a verdade cristã imutável ao espírito transitório dos séculos.

A heresia tem íntima relação com a ortodoxia. Os movimentos religiosos, políticos e sociais começam primeiramente com uma rebelião, uma heresia, para depois se tornarem ortodoxia. Nesse sentido, o grande problema do ser humano consiste em conciliar heresia com ortodoxia. Por que? Porque o ser humano é adepto do menor esforço: descoberta uma verdade, ele não se inflama em buscar novas verdades. Procura, sim, viver no conforto que essa descoberta recente lhe trouxe. Observemos a história da humanidade: quantos não foram queimados vivos, porque as suas ideias discordavam do status quo?

A Doutrina Espírita é evolucionista. Allan Kardec, no capitulo 1 de A Gênese, diz: "O Espiritismo, avançando com o progresso, jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrarem que está em erro acerca de um ponto, ele se modificará nesse ponto; se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará." Baseando-se nessa afirmação, o espírita sincero nunca deverá adotar uma ortodoxia rígida. Ele deve seguir os princípios doutrinários, porém jamais transformá-los em dogma ou preconceito.

É perda de tempo ficar criticando religiões ou excomungando os seus adeptos. Todas são parcelas de uma verdade maior. Tenhamos, sim, uma mente aberta para verificarmos que uma religião constituída não salva ninguém. Ela pode nos ajudar, mas não fará por nós o trabalho de direcionar, para o bem, os nossos pensamentos, palavras e atos. Aquele que procura conhecer-se a si mesmo não tem tempo de se preocupar com as imperfeições alheias. Olhemos a trave que está em nosso olho e não o cisco que se encontra no olho do nosso vizinho.

O Espiritismo é o farol da liberdade. Libertemo-nos, assim, de tudo o que envolver o erro, a mentira e a dependência. Esta é a verdadeira heresia espírita. 

 

 

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