Em sentido próprio, o mito significa
uma fábula arquitetada pela fantasia humana para personificar entidades do
espírito ou da natureza; a mística, a união do homem com Deus.
Em sentido figurado, o mito é a atribuição de um
valor absoluto a uma entidade relativa; a mística, representa uma
dedicação passional a essa entidade.
Hodiernamente, os mitos e a mística são tomados no
sentido figurado. Para bem entender a sutileza desta significação, devemos
situar os mitos entre a realidade objetiva e a fantasia.
A realidade objetiva mostra o que a coisa é independentemente
da observação do sujeito; a fantasia, sendo uma criação mental,
distancia-se da realidade. Em outras palavras, os mitos atribuem um valor à
realidade: eles não são como a verdade, que descobre valores.
Em termos filosóficos e
políticos, há que se considerar o existencialismo, o marxismo e
o liberalismo. O existencialismo, por exemplo, atribui
um valor absoluto à existência atual, negligenciando as vidas passadas; o marxismo convida-nos
a conquistar a justiça e a igualdade através da luta de classes; esquecem-se de
que somos desiguais e por isso precisamos de níveis diferentes de renda;
o liberalismo apoiando-se na espontaneidade deixa que cada um
aja de acordo com a subjetividade de sua consciência; esquecem-se de que
devemos agir de acordo com a consciência bem formada.
Em termos práticos, temos
o enriquecimento, a tecnologia, o sexo, cultura e
a religião. Somos impelidos a enriquecer e ter
posição de destaque; caso não consigamos, somos desprezados pelos que o
conseguiram. A tecnologia possibilitou ao homem o domínio da
natureza; trouxe, porém o inconveniente de colocar a técnica acima de Deus.
O sexualismo foi uma reação contra o puritanismo; descambou,
contudo, para o sexo descontrolado. A cultura desenvolveu a
inteligência humana; deslocou, entretanto, os atributos da inteligência e da
potência divina, para a criação humana. A religião desenvolveu
a crença em Deus; criou, contudo, uma idolatria que deturpou os sentimentos
mais nobres da verdadeira mística.
O Espiritismo não contém mitos,
pois foi estruturado segundo o método teórico-experimental. Contudo nós, os
espíritas, criamos muitos deles, entre os quais citamos: 1) o mito do
mentor - quando aceitamos passivamente as determinações dos nossos
mentores sem o cuidado de analisar racionalmente a mensagem transmitida; 2) o mito
do trabalho forte - quando nos deixamos governar pela ilusão,
aceitando que um trabalho espiritual, por exemplo, o de desobsessão é
infinitamente superior ao trabalho de palestra evangélica; 3) o mito da
pureza doutrinária - quando só consultamos os livros da codificação,
negligenciando os ensinamentos trazidos pelos diversos médiuns espalhados pelo
mundo todo.
Disponhamo-nos a ver o Espiritismo como ele é e não
como gostaríamos que fosse. Se deixarmos de lado o nosso ponto de vista, não só
nos libertaremos dos mitos como também adquiriremos uma vasta cultura
espiritual.
Fonte de Consulta
LIMA, A. A. O Existencialismo e Outros Mitos do Nosso Tempo. 2. ed., Rio de Janeiro, Agir, 1956 (Obras Completas XVIII)
Compilação: https://sites.google.com/view/temas-diversos-compilacao/mito-e-mitologia
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