02 julho 2008

Genealogia da Felicidade

Para Sócrates o "conhece-te a ti mesmo" é a chave para a conquista da felicidade. Para Platão a noção de felicidade é relativa à situação do homem no mundo, e aos deveres que aqui lhe cabem. Para Aristóteles a felicidade é mais acessível ao sábio que mais facilmente basta a si mesmo, mas é aquilo que, na realidade, devem tender todos os homens da cidade

No âmbito do Velho Testamento, o homem bíblico busca, em primeiro lugar, a felicidade na satisfação de seus anseios mais imediatos: os alimentos de que necessita para subsistir, a casa que precisa para morar, a família, a comunidade em que é estimado. Mas a alma e a origem de todos os bens que alegram o coração humano é sempre Deus. A felicidade passa a centrar-se no temor a Iahweh, que equivale à atitude religiosa do homem. A síntese do VT prende-se ao fato de que a adesão a Deus está essencialmente relacionada com a abundância de bens terrenos.

Na dimensão do Novo Testamento, a presença de Jesus e as suas bem-aventuranças são uma negação do Velho Testamento. Mas não se deve entender como se significasse uma recompensa no além para compensar a triste situação do presente. A radicalidade de uma felicidade futura negligenciaria a atuação no presente. Contudo, o alcance evangélico das bem-aventuranças está no fato de que elas já pressupõem a felicidade no presente embora esse presente se abra para um futuro escatológico.

Plotino (204-270) afirma que a felicidade do sábio não pode ser destruída nem pelas circunstâncias adversas nem pelas favoráveis. Santo Agostinho (354-430) entende a felicidade como o fim da sabedoria, a posse do verdadeiro absoluto, isto é, de Deus. Tomás de Aquino (1225-1274), na Suma Teológica, utilizou a palavra "beatitude" como equivalente à "felicidade" e a definiu como "um bem perfeito de natureza intelectual". Kant (1724-1804) julga que a felicidade faz parte do bem supremo o qual é para o homem a síntese de virtude e felicidade. Bentham (1748-1832) e Stuart Mill ( 1773-1836) retomaram como fundamento de moral a fórmula de Beccaria: "A maior felicidade possível, no maior número de pessoas".

Este escorço histórico culmina com a nossa época atual em que os valores legítimos da verdadeira felicidade estão ameaçados pelo consumismo globalização do mundo econômico. A globalização traz a padronização em termos mundiais, nem sempre factível com os hábitos culturais de determinados países. O consumismo faz com que o homem tenha necessidades imaginárias que mais atrapalham do que o auxiliam a realizar-se plenamente.

A felicidade é uma conquista interior. É a luta que o homem trava para vencer-se a si mesmo. É a disposição de renegar a própria personalidade, a fim de atingir o bem supremo, mesmo que implique em sofrimentos acerbos.

Fonte de Consulta

IDÍGORAS, J. L., Padre, S. j. Vocabulário Teológico para a América Latina. São Paulo, Edições Paulinas, 1983.

ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. São Paulo, Mestre Jou, 1970.

 


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